Um tsunami de proporções inéditas tem arrastado o mundo para mudanças
complexas em todos os países e em todas as camadas da sociedade. A
pandemia nos tem trazido muitas lições e grandes indagações sobre o
presente e o futuro. As mulheres, que historicamente sempre foram as
maiores responsáveis pelos cuidados com a casa e com os filhos, viram
sua situação se alterar e se agravar de forma surpreendente.
O primeiro resultado disso, consequência nefasta desse ano tão difícil, é
que a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro
atingiu seu nível mais baixo desde 1990: perdemos 30 anos de avanços,
que farão necessários muitos mais anos para recuperá-los.
Não é difícil reconhecer os problemas. A pandemia foi inesperada, mas a
estrutura do trabalho doméstico, ainda carente de renovação, atingiu
muito mais as mulheres. Como consequência, elas viram desmoronar
projetos profissionais, na impossibilidade de conciliar as tarefas
domésticas e o cuidado com os filhos confinados, e sem poder contar com
nenhuma ajuda.
Tradicionalmente, a divisão das tarefas ainda tende a seguir o modelo
segundo o qual o homem é o responsável pelo provento da família e a
mulher pelos seus cuidados. Assim, se alguma carreira tem que ser
sacrificada no momento de uma demanda extrema, normalmente é a da mulher
que será imolada.
Muitas empresas, felizmente, já discutem ambientes de trabalho mais
inclusivos, mas não havia como imaginar um cenário tão adverso como o
que tivemos em 2020. Escolas e creches fechadas, idosos isolados e as
mulheres tendo que encarar a tripla jornada de labor.
Não foram raros os registros de crianças interrompendo as reuniões ou
choros e birras ao fundo da tela de computador, na tentativa de atrair a
atenção de mães, que tentavam manter alguma racionalidade e serenidade
na sequência interminável de reuniões pelos mais diversos aplicativos
que se tornaram moda.
Nesse cenário adverso, a resiliência das mulheres foi testada ao limite –
principalmente para as mulheres com trabalho habitualmente fora de casa
e com filhos pequenos. Tudo se confundiu no espaço das residências e
não são poucos os analistas antecipando que movimentos como o do home office
vieram para ficar. Além disso, o confinamento doméstico produziu
estatísticas preocupantes, relativas aos índices de violência doméstica e
incidência de doenças mentais entre as mulheres.
Os números, publicados recentemente pela Susep, demonstram a resiliência
do mercado segurador, que segue crescendo em muitos segmentos, apesar
das circunstâncias desfavoráveis. É muito animador perceber a pujança de
nosso setor, e poder associá-lo também aos cuidados com as carreiras
femininas.
As discussões entre as seguradoras foram extensas e detalhadas, no
sentido de oferecer a todos os funcionários as melhores condições de
trabalho durante a pandemia. O cuidado com o tripé saúde financeira,
emocional e física permeou a busca de soluções, o que nos leva a
acreditar que sairemos, como setor, ainda mais fortalecidos, quando
pudermos comemorar o fim desses tempos sombrios.
Nós, da Escola de Negócios e Seguros, há dez anos trabalhamos em prol
das carreiras femininas. Através de pesquisas, palestras e publicações
temos procurado acompanhar a evolução da participação das mulheres no
mercado de seguros. E ela tem sido crescente. É muito gratificante
perceber que há outras instituições criadas no mercado especialmente
para apoiar a causa da diversidade – caso da AMMS (Associação das
Mulheres no Mercado de Seguros) e do IDIS (Instituto pela Diversidade e
Inclusão no Setor de Seguros). A CNseg considera esse assunto como
prioritário. Todos sabemos que um mercado mais diverso e inclusivo será
mais capaz de captar tendências e apresentar melhores resultados.
Em março, comemoramos o Dia da Mulher – e nossa homenagem tem que ir
para todas as mulheres que têm se desdobrado tanto nessa pandemia,
garantindo o funcionamento das casas, os cuidados com os idosos, a
educação das crianças, a consistência nas carreiras e, sobretudo, a
esperança no futuro. Torcendo para que o grande aprendizado desse ano de
pandemia seja a ampliação do compartilhamento e o desenvolvimento de
homens mais participativos, aptos a apoiar, em futuro breve, mulheres
menos atarefadas e mais felizes.
Maria Helena Monteiro
Diretora de Ensino Técnico da
Escola de Negócios e Seguros (ENS)